Descompassos

Esta mobilização dos professores da rede estadual tem muitas singularidades. Está chegando no vigésimo dia, causando transtornos de toda ordem para os alunos e os pais que não tem onde deixá-los, e, no entanto, o apoio da comunidade tem sido quase consensual.


Outro fato que revelou o descompasso sobre as primeiras medidas do governo foi a reação da base aliada na Assembléia Legislativa. Quando o secretário Marco Tebaldi encaminhou ofício para ser apreciado na assembléia estadual do magistério fixando que o piso era equivalante à remuneração, contrariando o espírito da lei e a decisão do Supremo, os professores nem a consideraram uma proposta. A rejeição foi instantânea e unânime. Na Assembléia Legislativa, a atitude do secretário foi duramente criticada até por aliados, a tal ponto que chegou-se a imaginar tratar-se de fogo amigo. Na realidade, os fatos demonstraram que contestaram pela absoluta inaplicabilidade da proposição oficial.

Veio a medida provisória do piso, com aplicação parcial na base da carreira, e um bombardeio de críticas da oposição, com intervenções pedindo a rejeição. Outra exceção que teve efeito político dentro do Centro Administrativo: não houve um só deputado governista que, da tribuna ou em apartes, tenha criticado a greve dos professores. Os que não se declararam aliados, pediram moderação e negociação com o governo.

A medida foi engavetada e criou o principal fato político da greve.
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Educaçao de SC vai mal


A educação pública estadual catarinense vai mal. Não apenas pelos dramáticos depoimentos dos professores, em função dos baixos salários. Também pela falta de gestão pública, da ausência de instalações adequadas, da desmotivação dos educadores, da inexistência de políticas públicas.

Santa Catarina espera que a próxima semana seja marcada pelo fim das negociações entre governo e magistério, o término da greve e o retorno às aulas.

O ensino estadual de Santa Catarina está doente. No passado, a escola era o templo do aprendizado, da disciplina, do respeito, da busca de novos conhecimentos, do aperfeiçoamento nas relações humanas, da atualização constante, instrumentada por ferramentas e tecnologias. Se isto ocorre hoje em muitas escolas particulares, deixou de existir nas escolas estaduais. Quem viaja pelo interior testemunha a distância entre o nível de ensino, o espaço físico, o capricho e o padrão pedagógico das escolas municipais, incomparavelmente melhores do que as estaduais.

A greve produziu pela primeira vez um debate amplo, rico e revelador sobre as condições em que professores tentam exercer dignamente sua vocação. Homens e mulheres que sonharam em alfabetizar, educar e transformar crianças e jovens em cidadãos, sofrendo na escola com a violência e a indisciplina das novas gerações e tendo em casa o infortúnio e o desespero de não poder dar o mínimo conforto à família.

Lamentável é constatar que a culpa está nos governos, sim, que não executaram uma política participativa na educação, que tiraram proveito político-eleitoral da estrutura existente e que se omitiram diante de verdadeiras calamidades.

Moacir Pereira

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